As formas livres deste monumento,
com dez metros de altura, projetado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer(1) em
tributo às vítimas da violência no campo no Paraná,
falam por ele e por um dos temas de sua arte, a busca de uma utopia
estética para a resolução dos problemas sociais(2).
O monumento(3) está situado próximo à capital do estado
do Paraná, no quilômetro 108 da rodovia BR 277. Este estado
protagoniza, de várias formas, os problemas da terra no Brasil, a exemplo
do desalojamento de 12.000 famílias quando da construção da
Hidrelétrica Binacional de Itaipu, na sua fronteira com o Paraguai(4).
Significativamente, o Paraná foi o palco do I Encontro Nacional do
Movimento dos Trabalhadores Rura,is Sem Terra de 21 a 24 de janeiro de
1984, quando o MST se formalizou como movimento nacional.
Cravado no local onde foi morto o líder camponês Antônio
Tavares Pereira, o Monumento constitui um marco de mais um episódio de
violência no campo no Brasil. Mas ele não faz ressoar os gritos dos
que sob ele jazem nem os lamentos das Viúvas da Terra que em 2 de maio de
2001 fizeram sua inauguração oficial. A arte de Niemeyer no
Monumento transcende os limites da realidade. Suas linhas apontam para um mundo
novo, sem fronteiras, onde, espera-se, pela ação política e
pelo trabalho, as mudanças sociais se concretizarão e melhores
condições de existência se realizarão.
Assim se expressa sobre o Monumento o poeta e secretário executivo da
Comissão Pastoral da Terra do Paraná, Gerson de Oliveira:
"(...) o braço erguido de camponês, lavrado no concreto
branco, parece empurrar o monumento para o alto, para a liberdade, na
força revolucionária que esses homens e mulheres carregam. O
camponês é o próprio monumento. Uma coisa só. A
foice, proibida, ferramenta do trabalho e símbolo de uma luta,
está definitivamente na mão do trabalhador (...). [Niemeyer]
devolveu ao homem a dignidade de seu trabalho. É assim que, na curva
da história, o sem terra e o arquiteto têm um encontro para a
eternidade(5)".
1 Nota do editor: Arquiteto brasileiro. Vários prêmios
nacionais e internacionais. Conhecido pelo Complexo Arquitetônico da
Pampulha em Belo Horizonte e, em especial, pelo projeto da catedral e dos
edifícios governamentais de Brasília. Seus projetos fora do Brasil
incluem a França, a Alemanha Oriental, a Argélia, Israel e
Venezuela. Juntamente com Le Corbusier e outros sete arquitetos, planejou o
edifício das Nações Unidas em Nova York.
2 Nota do editor: Tema ressaltado por D. K. Underwood (Oscar Niemeyer
and Brazilian Free-Form Modernism. George Braziller Publishers, 1994), dentre
outros.
3 Nota do editor: Monumento Antônio Tavares Pereira, projetado
por Oscar Niemeyer. Foto de Douglas Mansur. Reprodução autorizada
pelo MST de São Paulo.
4 Nota do editor: Fernandes, Bernardo Mançano e Stedile,
João Pedro. Brava gente: a trajetória do MST e a luta pela terra
no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1999.
p. 44.
5 Nota do editor: "Monumento homenageia vítimas da violência no campo". InforAndes, maio de 2001, no. 105, p. 10.
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