Às vezes penso de que maneira pode ser lido hoje, cem anos depois, o
clássico final da primeira Parte d'Os sertões, de Euclides
da Cunha:
0 martírio do homem, ali, e o reflexo de tortura maior, mais ampla,
abrangendo a economia geral da Vida. Nasce o martírio secular da Terra.
Em nossos dias o martírio da terra não é apenas a sêca
do Nordeste. É a devastação predatória de todo o
país e é a subordinação da posse do solo à
sede imoderada de lucro. Se aquela agride a integridade da Natureza, fonte de
vida, esta impede que o trabalhador rural tenha condições de manter
com dignidade a sua família e de produzir de maneira compensadora para
o mercado. Hoje, o martírio do homem rural é a espoliação
que o sufoca.
Como consequência, tanto o martírio da terra (ecológico
e econômico), quanto o martirio do homem (econômico e social) só
podem ser remidos por meio de uma redefínição das relações
do homem com a terra, objetivo real do MST. Por isso, ele é iniciativa
de redenção humana e promessa de uma era nova, na qual o homem
do campo possa desempenhar com plenitude e eficiência o grande papel que
lhe cabe na vida social e econômica, porque as lides da lavoura são
componente essencial de toda economia saudável em nosso país.
Por se ter empenhado nessa grande luta com desprendimento, bravura e êxito,
o MST merece todo o apoio e a gratidão de todos. Nele palpita o coração
do Brasil.
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