1. "A estratégia de pressão política
do Movimento dos Sem Terra é reunir famílias de agricultores em
acampamentos à beira de estradas.
Com os moradores do Assentamenro 30 de Maio não foi diferente.
Vivendo em más condições e acompanhadas de suas crianças
pequenas, essas famílias passaram em média 3 anos acampadas à
beira de várias estradas e mais 2 anos no próprio assentamento,
antes de construítrem suas casas.
Foi um período difícil que permanece vivo ma memória de
todos. "
2. "Eu não tenho boas lembranças do acampamento.
Me traz a fome que eu passei, tinha doença.
Mas eu acho que valeu a pena porque hoje a gente está aqui. Tem a terra
da gente, está estudando, a gente pode pensar no futuro. Eu acho que
se eu precisasse de ir acampar, eu aho que eu acamparia de novo para conseguir
o que meu pai conseguiu e minha mãe.
Este é o pátio da Escola Estadual de Itapuí, no Rio Grande
do Sul, onde, por iniciativa dos próprios alunos, é mantida viva
a memória dos acampamentos.
Esta escola é diferente das outras porque ela é uma escola de
assentamento.Então, como símbolo desse assentamento, gente faz
todo mês de outubro um acampamento no campo da nossa escola.
Ao receberem seus lotes as famílias sem-terra passam a ter uma terra
para plantar mas isso não foi o fim dos tempos difíceis."
3. "Charqueadas, Rio Grande do Sul.
Este é o Assentamento 30 de Maio.
Esta área de 850 hectares estava destinada a ser Colônia Penal
Agrícola, mas em 1990, 49 famílias de agricultores sem-terra foram
assentadas nela.
Estas famílias enfrentaram as dificuldades iniciais formando uma cooperativa
de produção.
Não demaracaram os lotes. Em vez disso, passaram a trabalhar a terra
de forma coletiva. Depois dos primeiros dois anos vivendo em barracos, sem água,
sem luz, podem hoje orgulhar-se das excepcionais condições de
vida que alcançaram, o que fica evidente quando vemos as crianças
do assentamento. As maiores estudam até completar o 2º grau; as
menores podem brincar à vontade."
4. "Todos os dias, os encarregados dos grupos de trabalho
se reúnem para planejar o dia seguinte, coordenados pela Secretaria Geral.
Existe o grupo da horta, dos suínos, o do leite e assim por diante.
Após o café-da-manhã, cada grupo dirige para sua área
para realizar as tarefas do dia."
5. "Todo ano as famílias assentadas de Charqueadas
produzem 255 mil litros de leite, 530 toneladas de arroz, 120 toneladas de milho,
além de verduras, ovos e mel. Em média, o assentamento responde
por quase toda a produção agrícola e pecuária do
município.
Hoje, em vista da demanda, os assentados estão construindo seu próprio
mercado onde vão comercializar diretamente os produtos do assentamento."
6. "De acordo com o INCRA, já foram distribuídos
4.870.000 hectares divididos entre 159.770 familías de agricultores sem-terra.
Ainda existem 520 milhões de hectares de terra passíveis de apropriação
para fins de reforma agrária. As experiências bem sucedidas de
Charqueadas e Itapuí mostra do que homens e mulheres são capazes
quando têm a oportunidade de trabalhar a terra, produzir alimentos e cuidar
do futuro com as próprias mãos. Para as crianças dessas
famílias os tempos de privação terminaram."
O Futuro da Terra
Este filme mostra o sistema de organização social e do trabalho
dos assentamentos de Reforma Agrária, mais especificamente os Assentamentos
de Charqueadas e Itapuí, no estado do Rio Grande do Sul.
Em flashback montado a partir de trabalhos do internacionalmente conhecido fotógrafo
Sebastião Salgado, fotos dramáticas, em branco e preto, desnudam
o pesadelo do cotidiano dos Sem Terra nos acampamentos, contruídos à
beira das estradas como estratégia de pressão política.
As antigas fotografias encenam memórias que não se esvaem, como
no depoimento de uma criança sobre a experiência de fome e doença.
A fogueira acesa numa escola todos os anos no mês de outubro rememora
o acampamento enquanto símbolo da luta pela terra.
Já nos acampamentos, algunas das dificuldades permanecem nos períodos
iniciais quando os Sem Terra já receberam a terra mas não construíram
ainda as suas casas. A organização coletiva da produção
e do trabalho, a construção de escolas resultam em qualidades
relativamente excepcionais de vida e uma significativa. produção
agrícola e pecuária. Novas etapas incluem o estabelecimemto de
canais de comunicação com as cidades próximas ao acampamento,
visando também ao escoamento da produção.
Após a demonstração dos vários componentes da vida
nos assentamentos, seguidos de uma série de depoimentos contendo percepções
e vivências pessoais, sobretudo de crianças, o filme conclui com
a estatística da terra ainda passível de ser desapropriada para
que os benefícios da Reforma Agrária e dos assentamentos possam
atingir muitos cidadãos, como no bem-sucedido exemplo de Charqueadas
e Itapuí.
O filme foi produzido a partir de pesquisa de Sinara Sandri, em 1987, em Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, sob a direção de Werner Schünemann,
com o apoio de diversas entidades e sindicatos, como o dos Engenheiros, e da
CUT (Central Única dos Trabalhadores).
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