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As Imagens e as Vozes da Despossessão: A Luta pela Terra e a Cultura Emergente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)

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Português (change language to English)

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Estudos, depoimentos & referências -> Depoimentos de Intelectuais e Artistas 13 recursos (Compilado por Else R P Vieira. Tradução © Bernard McGuirk.)

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Autor:

Paulo Freire
(Educador brasileiro, autor da célebre Pedagogia do oprimido, dentre outras contribuições para uma educação crítica.)

Título:

Entrevista: Reforma agrária e educação
(Uma nova cultura advém da Reforma Agrária. Reinserção do homem como sujeito da história. Tarefa educativa: exercício da cidadania; corte dos "arames farpados" da ignorância.)

(…) O processo de Reforma Agrária inaugura uma nova história, uma nova cultura, a cultura que nasce de um processo de transformação do mundo. Por isso mesmo, ela implica em transformações sociais (…), por exemplo, a superação de uma cultura profundamente paternalista e fatalista em que o camponês se perdia (…), enquanto objeto quase puro excluído (…). Por sua reincorporação ao processo da produção, ele ganha uma posição social que não tinha, uma história que ele não tinha (…). Na verdade, ele descobre que o fatalismo já não explica coisa nenhuma e que, tendo sido capaz de transformar a terra, ele é capaz de transformar a história e a cultura. Da posição fatalista, ele renasce, numa posição de inserção, de presença na história, não mais como objeto, mas também como sujeito da história. Ora, isso tudo são tarefas educativas. Então, trabalhar no sentido de ajudar os homens e as mulheres brasileiras a exercer o direito de poder estar de pé no chão, cavando o chão, retificando o chão, fazendo com que o chão produza melhor é um direito e um dever nosso.

A educação é uma das chaves para abrir essas portas. Eu nunca me esqueço de uma frase linda que eu ouvi de um educador, de um alfabetizador camponês de um grupo de Sem Terra de um assentamento enorme no Rio Grande do Sul onde eu fui, quando ele disse: "pela força do nosso trabalho, pela nossa luta, cortamos o arame farpado do latifúndio e entramos nele, mas quando nele chegamos, vimos que havia outros arames farpados, como o arame da nossa ignorância". "Então eu percebi melhor ainda naquele dia", disse ele, "que quanto mais inocentes, tanto melhor somos para os donos do mundo". (…) Eu acho que essa é uma tarefa que não é só política, que não é só ideológica, mas também pedagógica. Não há Reforma Agrária sem isso.

Eu vou mandar um recado para os jovens professores (...): Vivam por mim, já que eu não posso viver, com crianças e com adultos que, com sua luta, estão buscando ser eles mesmos e elas mesmas.

1 Nota do editor: Reprodução da entrevista autorizada pelo MST de São Paulo. A gravação do depoimento foi apresentada durante o I Encontro Nacional de Educadores e Educadoras de Reforma Agrária (RA): Movimento Sem Terra: Com Escola, Terra e Dignidade, realizado em Brasília, UNB, 28 a 31 de Julho de 1997.

2 Nota do editor: Em 1997, aos 76 anos, morre o Professor Paulo Freire

Data:

novembro de 2002

Recurso ID:

INTERVIE409

		À Universidade da página bem-vinda de Nottingham

Vozes Sem Terra, site hospedado pela
School of Languages, Linguistics and Film
Queen Mary University Of London, Grã-Bretanha

Coordenadora do Projeto e Organizadora do Arquivo: Else R P Vieira
Produtor do Web site: John Walsh
Arquivo criado em janeiro de 2003
Última atualização: 07 / 05 / 2016

www.landless-voices.org