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As Imagens e as Vozes da Despossessão: A Luta pela Terra e a Cultura Emergente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)

Língua:

Português (change language to English)

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Cultura emergente por tipo de mídia -> Poemas 46 recursos (Editado por Else R P Vieira. Tradução © Bernard McGuirk.)

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Este recurso se encontra também em:

História: Marchas, marcos, congressos
História: Massacres e mártires

Autor:

Zé Pinto

Título:

Oziel está presente

Aquele menino era filho do vento
Por isso voava como as andorinhas
Aquele menino trilhou horizontes
Que nem um corisco talvez ousaria
Levava no rosto semblante de paz
E um riso de flores pro amanhecer
sol da estrada brilhou sua guerra
Mirou o seu povo com olhar de justiça
Pois tinha na alma um cheiro de terra
Tantas primaveras tinha pra viver
Pois tão poucas eras te viram nascer
Beijou a serpente da fome e do medo
Mas fez da coragem seu grande segredo,
Ergueu a bandeira vermelha encarnada
Riscou na reforma um "a" de agrária
E assim prosseguiu.
Seguiu cada passo com uma fé ardente
A voz ecoando na linha de frente
Em tom de magia numa melodia de estar presente
E a marcha seguia, seguiam os homens,
Mulheres seguiam, crianças também caminhavam
Mas lá onde a curva fazia um "S"
Que não se soletra com sonho ou com sorte
Pras bandas do norte o velho demônio
Mostrou seu poder.
Ali o dragão urrou, o pelotão apontou,
As armas cuspiram fogo, e dezenove
Sem terra, a morte fria abraçou.
Mas tremeu o inimigo com a dignidade do menino
Inda quase adolescente, pele morena, franzino
Sob coices de coturno, de carabina e fuzil
Gritou amor ao Brasil, num viva ao seu movimento,
E morreu!
Morreu pra quem não percebe
Tanto broto renascendo
Debaixo das lonas pretas, nos cursos de formação
Ou já nos assentamentos,
quando se canta uma canção,
ou num instante de silêncio
Oziel está presente,
Porque a gente até sente,
Pulsar o seu coração.

Data:

novembro de 2002

Recurso ID:

OZIELISW953

Glossário

Compilado por Else R P Vieira. Tradução © Thomas Burns.

Casas de lona preta
"Termo usado para descrever os barracos nos acampamentos dos sem-terra. Como os barracos são construídos em caráter temporário (embora às vezes os acampamentos durem até três anos), as famílias utilizam plásticos pretos, um produto barato comumente usado para proteger produtos industriais das intempéries; com alguns metros pode-se cobrir a área necessária para acolher uma família. Por outro lado, esse tipo de material concentra muito calor, de modo que, durante o dia, é praticamente impossível ficar dentro dos barracos. Quando há uma grande concentração desses barracos, a mídia costuma chamar de "cidade de lona preta"" (Fernandes, Bernardo Mançano. Pequeno Vocabulário da Luta pela Terra. Inédito). 

Oziel
Jovem de apenas 18 anos de idade, assassinado por oasião da emboscada praticada pela polícia militar em Eldorado de Carajás. Foi torturado até a morte e obrigado a gritar "Viva o MST" (Calendário Histórico dos Trabalhadores. São Paulo: MST, Setor de Educação. 3a. edição, 1999, p. 38). 

Antologia de poemas
Uma seleção de primeira mão, inédita dentro e fora do Brasil. Uma poética militante; a importância social e política do cantador, a construção de um cânone da despossessão; a mulher sem-terra; o tema da morte como horizonte de vida; o projeto pedagógico.
Else R P Vieira

		À Universidade da página bem-vinda de Nottingham

Vozes Sem Terra, site hospedado pela
School of Languages, Linguistics and Film
Queen Mary University Of London, Grã-Bretanha

Coordenadora do Projeto e Organizadora do Arquivo: Else R P Vieira
Produtor do Web site: John Walsh
Arquivo criado em janeiro de 2003
Última atualização: 07 / 05 / 2016

www.landless-voices.org